Receio com economia pode postergar investimentos no mercado imobiliário
No mercado residencial, a falta de confiança resulta em menor volume de lançamentos e deixa os estoques baixos, enquanto o investidor estrangeiro ainda avalia negócios voltados para o turismo
Após encolher 31% entre 2014 e 2018, a construção civil deve obter incremento de 0,5% na movimentação financeira neste ano. Diante dessa retomada tão incipiente, os investidores – nacionais e estrangeiros – ainda se mostram receosos, o que poderá retardar ainda mais investimentos.
Na avaliação do presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Basilio Jafet, no mercado imobiliário residencial a diminuição dos lançamentos reflete a cautela dos empresários, e por isso o mercado sente uma “diminuição sensível” nos níveis de estoques desde 2018.
“As empresas estão com certo receio de acelerar os lançamentos pois não sabem exatamente o que deve acontecer com a economia”, diz.
Apesar da incerteza com a economia, o presidente do Secovi ressalta que alguns fatores, como a regulamentação da Lei dos Distratos, melhoraram o ambiente de negócios para o setor. “É uma coisa que trazia muita insegurança jurídica para o setor, fazendo com que, em agosto de 2016, os índices de revogação de contratos chegassem a 23,5%. Em janeiro de 2019, esse percentual caiu para 6,1% com a lei que regulamenta os distratos sancionada por Michel Temer.”
Questionado sobre as perspectivas para os próximos meses, Jafet avalia que haverá uma melhora nos negócios, muito em função do período ser, tradicionalmente, mais forte para a venda de imóveis residenciais. “Depois de enfrentar cinco anos muito difíceis para o setor, começamos a sentir os primeiros sinais de recuperação do mercado”, avaliou o executivo, ressaltando que medidas como reforma tributária, queda na taxa básica de juros e a Medida Provisória da Liberdade Econômica “estão alinhadas com o que esperamos.”
Financiamento
Segundo dados divulgados pela Secovi, 48,7% – o equivalente a R$ 620 bilhões – dos recursos financeiros utilizados para compra de imóveis vieram da caderneta de poupança; 33% são provenientes do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); 11,8% de Letras de Crédito Imobiliário (LCI); e 5,6% de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).
Em relação aos possíveis impactos da medida do governo de liberar saques de contas do FGTS a partir de setembro deste ano, o economista-chefe da entidade, Celso Petrucci, negou reflexos no curto prazo. “A medida não nos preocupa em um horizonte curto de tempo. Esperamos um certo impacto a partir de 2021.”
Diante desse eventual impacto, ele acredita que outras modalidades de financiamento devem ganhar protagonismo. “Se observarmos a faixa três [financiamento para famílias com renda bruta de até R$ 7 mil] do Minha Casa Minha Vida poderá ser atendidos pelo mercado de caderneta de poupança. Nos próximos dois anos, não teremos problema nesse sentido”, exemplificou.
Ainda conforme os dados divulgados pela entidade em um evento na capital paulista, o volume de financiamentos imobiliários registrou crescimento de 33% no primeiro semestre de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior – chegando a R$ 33,7 bilhões. A estimativa de utilização de recursos da caderneta de poupança teve avanço de 31%; enquanto uso do FGTS caiu 4% sobre um ano antes (veja mais no gráfico).
Investimento estrangeiro
Sobre a atração de investimento estrangeiro para obras ligadas ao turismo, o presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit), Caio Calfat, conta que investidores de fora do País tem observado com otimismo e “falta pouco” para recuperar a confiança de antes, e que “os investimentos internacionais estão aguardando melhores condições macroeconômicas para realizar os aportes, como por exemplo o andamento das propostas de reformas no Congresso”.
Ainda segundo ele, do ponto de vista do mercado nacional turístico, existem sinais de retomada nos investimentos até pelos juros mais baixos e perspectiva da Selic chegar a 5,5% até o final desse ano. Além disso, Calfat ressalta que empreendimentos de multipropriedade – com venda e uso fracionados – deverá puxar o mercado.
Via: DCI