6 a cada 10 apês vendidos no estado de São Paulo são menores que 45 m², diz pesquisa
Os hábitos do morar estão sendo adaptados para moradias com metragens cada vez menores. Entenda essa tendência
Arquitetura e decoração, quando aliadas à função, criam soluções práticas no espaço disponível. Com isso em pauta, a redução das metragens em apartamentos, principalmente em cidades grandes, já é uma realidade. Antigamente, costumávamos dizer que 70 m² já era um espaço limitado. Agora, em 30 m², já sabemos que pode-se morar com estilo e muito conforto, sem apertos.
Essa característica de moradia tem sido amplamente aceita entre os millennials, que tendem a ser mais desapegados dos objetos e, por isso, acumulam uma menor quantidade de pertences. E os dados comprovam a máxima, uma vez que 6 a cada 10 apartamentos comprados em São Paulo dispõem de menos de 45 m², segundo os dados do Sindicato de Habitação (Secovi-SP). Nos últimos quatro anos, as pessoas tem se tornado cada vez mais adeptas aos imóveis menores, uma vez que a taxa de crescimento das vendas destes mais que dobrou, de 28%, em 2014, para 60%, em 2018.
Por isso, é de se esperar que o comportamento perante à forma de habitar tem se transformado. Tanto no desapego quanto no consumo mais consciente, adaptações nos hábitos interferem na vida cotidianta.“Acompanhamos um conjunção de fatores para essa mudança. Além da queda do poder de compra, o público jovem que opta por apartamentos menores é atraído por facilidades oferecidas pelos condomínios e por avanços tecnológicos que facilitam a vida atual”, explica a arquiteta Fernanda Mendonça, do escritório Oliva Arquitetura. Aqui entram fatores como localização, facilidades do prédio, compra de mobílias e outras características exigidas por apês com metragens reduzidas.
Não somente pela crise financeira, as questões do espaço também entram em pauta. Nas capitais dos países europeus, por exemplo, crises antigas no sistema imobiliário jogam os preços de aluguel e compra de moradias para cima. Lá, os prédios dos século passado são adaptados para formar apartamentos em espaços improváveis, chegando até 15 m². Por isso, na arquitetura e decoração, profissionais lançam a mão do uso do pé-direito subindo camas e criando espaços de armazenamento nas alturas. Essa ideia dá asas para novas tendências de aproveitamento do espaço, aliando estética, criatividade e função. “Acredito que essa é uma tendência que veio para ficar. Para nós, arquitetos, muda-se a forma de projetar a medida que precisamos pensar em projetos com espaços mais flexíveis e dinâmicos para a vida do morador”, aponta Pietro Terlizzi, à frente do escritório homônimo.
Mas isso não significa abrir mão do conforto, uma vez que entre os millennials surgem conceitos como o JOMO e o chillhouse. O primeiro é uma paródia do FOMO, abreviatura para o "fear of missing out", em português, "medo de ficar de fora", que corresponde à sensação de não querer perder eventos e momentos, muitas vezes, compartilhados nas redes sociais. O JOMO, "joy of missing out" ou "alegria por ficar de fora", é exatamente o oposto: é aquela sensação de chegar em casa, tirar os sapatos e sentar-se no sofá, com uma boa taça de vinho, acomapanhado de alguém ou sozinho. É a alegria de desconectar-se do cotidiano agitado e desfrutar, de fato, da sensação de lar. O chillhouse segue a mesma vertente. Ele corresponde com o fato de curtir a casa e aproveitar os momentos de autocuidado. Aqui, entram as rotinas de beleza mais extensas, que assumem as prateleiras dos banheiros com produtos queridinhos, a multiplicidade de tecidos e texturas em casa para dar acolhimento, receber amigos para um jantar casual e outras transformações, cada vez mais naturais.
Já na criação de novos edifícios, outras soluções estão ligadas ao "home & share", ou "lar e compartilhamento", em português. Além das áreas de lazer compartilhadas presentes em muitos condomínios, outros cômodos da casa passam a ser divididos e eliminam o gasto externo com outras atividades. Por isso, as academias, que antes eram adaptadas e simples, tornaram-se mais equipadas, e, em alguns casos, a lavanderia passa a ser de uso coletivo. “Estamos em um momento de ressignificar o viver. Hoje em dia, as pessoas preferem estar mais próximas do trabalho, encarar menos tempo no trânsito e ter mais tempo para si. Ter um carro não é mais obrigatório, já que os aplicativos de transporte tornam a vida do morador mais fácil e econômica”, reflete Fernanda.
Para ela, os apês de 30 m² e 40 m² acomodam, geralmente, uma pessoa ou um casal sem filhos. Já os de 50 m² a 60 m² podem ser compartilhados por uma jovem família com uma criança. “Quem parte para esse tipo de imóvel passa a seguir uma nova filosofia de vida, quando entende-se que o primordial não é mais o ter, mas sim o ser”, pontua a arquiteta que acredita que os ambientes devem ir de encontro ao estilo de vida do morador, podendo contar com sala de estar, jantar, home office e até quarto segregado, basta selecionar os cômodos e funções de forma realista e inteligente.
Via: Casa e Jardim